A formação do Parque Peruche como território negro

Autores

  • Maria Gabriela Feitosa dos Santos FAU-USP

Palavras-chave:

território negro, Parque Peruche, instituições negras

Resumo

Este artigo pretende caracterizar o Parque Peruche, na Zona Norte da cidade de São Paulo, como território negro, a partir de sua ocupação nos anos de 1940 e 1950. O bairro resultou do parcelamento do Sítio do Mandaqui no final dos anos 1930 e teve como primeiro contingente significativo populacional famílias negras migrantes de Minas Gerais e do interior paulista e grupos negros oriundos de bairros centrais da cidade de São Paulo, como Bixiga, Barra Funda, Lavapés e Santa Cecília. Na pesquisa, identificamos que a conformação do Peruche como território negro foi possível não só pela presença expressiva de moradores negros, mas também pela existência e atuação de organizações socioculturais desse grupo no bairro. Durante as primeiras décadas de ocupação do Peruche, essas instituições, e suas similares no Rio de Janeiro e Salvador, estabeleceram um intercâmbio de práticas e saberes. Essa troca aponta para a organização dos negros em associação com instituições de outros estados já nas primeiras décadas do século XX.

Referências

° CONGRESSO tratará da preservação do samba. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ano 33, n.12.256, p.12, 29 out. 1962.

ALBERTO, Paulina. Terms of Inclusion. Black Intellectuals in Twentieth-Century Brazil. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2011.

AZEVEDO, Amailton Magno. São Paulo negra: Geraldo Filme e a geografia do samba paulista. Revista da ABPN, v.6, n.13, p.313-328, mar./jun. 2014.

AZEVEDO, Clara de Assunção; OLIVEIRA, Felipe Gabriel. Para além do Anhembi: as escolas de samba de São Paulo e outras práticas de sociabilidade. Ponto Urbe [online], n.23, dez. 2018. Disponível em: https://journals.openedition.org/pontourbe/5906. Acesso em: jun. 2022.

BAIRROS alagados. Jornal de Notícias, São Paulo, ano 3, n.836, p.12, jan. 1949.

BARONE, Ana Cláudia Castilho. Negra ou Pobre? Migrante ou despejada? Carolina de Jesus e os enigmas da classificação (1937-1977). Afro-Ásia, Universidade Federal da Bahia, Salvador, n.59, p.43-75, 2019.

BARONE, Ana Cláudia Castilho. Estratégias de aquisição da casa própria: a trajetória de algumas famílias negras paulistanas nas décadas de 1920 a 1940. Anais do Museu Paulista, v.28, p.1, 2020.

BRITTO, Iêda Marques. Samba na cidade de São Paulo (1900-1930): um exercício de resistência cultural. São Paulo: FFLCH-USP, 1986.

CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Ata da 73ª Sessão Ordinária da Câmara Municipal de São Paulo. São Paulo, 6 set. 1948.

CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Ata da 123ª Sessão Ordinária da Câmara Municipal de São Paulo. São Paulo, 14 jan. 1949.

CUNHA, Fabiana Lopes. Da marginalidade ao estrelato: o samba na construção da nacionalidade (1917-1945). 2000. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.

DONA BADUCA. [Depoimento]. Entrevistadora: Maria Gabriela Feitosa dos Santos. São Paulo: Parque Peruche, 2 out. 2018. (22min. 13s.). Depoimento concedido para a pesquisa de Iniciação Científica desenvolvido pela autora como parte das pesquisas do Laboratório de Estudos sobre Relações Étnico-Raciais e o Espaço Urbano (LabRaça FAU-USP) coordenado pela Profa. Dra. Ana Cláudia Castilho Barone. 2 out. 2018.

ESTADO DE SÃO PAULO. Arquivo Público (Apesp). Planta da Cidade de São Paulo e Municípios Circunvizinhos. Organizada pela Repartição de Eletricidade da The São Paulo Tramway Light & Power CO. LTD. 1943. Disponível em: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/web/digitalizado/cartografico/documentos_cartograficos. Acesso em: fev. 2021.

GUANABARA será sede do III Simpósio do Samba. A Luta Democrática: Um jornal de luta feito por homens que lutam pelos que não podem lutar, Rio de Janeiro, ano 14, n.4.239, p.7, 5 dez. 1967.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1940. V Recenseamento Geral do Brasil – 1940. Série Regional. Parte XVII – São Paulo – Tomo I. Censo Demográfico: População e Habitação. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/65/cd_1940_p17_t1_sp.pdf. Acesso em: ago. 2022.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1950. VI Recenseamento Geral do Brasil – 1950. Série Regional. Volume XXV – Tomo I. Estado de São Paulo – Censo Demográfico. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/67/cd_1950_v25_t1_sp.pdf. Acesso em: ago. 2022.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1960. VII Recenseamento Geral do Brasil – 1960. Série Regional. Volume I – Tomo XIII. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/68/cd_1960_v1_t13_sp.pdf. Acesso em: ago. 2022.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1970. VII Recenseamento Geral do Brasil – 1970. Série Regional. Volume I – Tomo XVIII – 2° Parte. Resultados segundo as Microrregiões e Municípios. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/69/cd_1970_v1_t18_p2_sp.pdf. Acesso em: ago. 2022.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1980. IX Recenseamento Geral do Brasil – 1980. Série Regional. Volume I – Tomo 4 – Número 19. Censo demográfico: dados gerais, migração, instrução, fecundidade, mortalidade. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/72/cd_1980_v1_t4_n19_sp.pdf. Acesso em: ago. 2022.

LODY, Raul. Joãozinho da Goméia: o lúdico e o sagrado na exaltação ao candomblé. In SILVA, Vagner Gonçalves (Org). Caminhos da alma: memória afro-brasileira, São Paulo: Summus, 2002. p.153-182.

MÃE WANDA; DONA ODETE. [Depoimento]. Entrevistadora: Maria Gabriela Feitosa dos Santos. São Paulo: Parque Peruche, 9 fev. 2019. (1h 10min. 42s.). Depoimento concedido para a pesquisa de Iniciação Científica desenvolvido pela autora como parte das pesquisas do Laboratório de Estudos sobre Relações Étnico-Raciais e o Espaço Urbano (LabRaça FAU-USP) coordenado pela Profa. Dra. Ana Cláudia Castilho Barone. 9 fev. 2019.

MENDES, Andrea. Vestidos de realeza: fios e nós centro-africanos no candomblé de Joãozinho da Goméia. Duque de Caxias/RJ: APPH-CLIO, 2014.

MOURA, Roberto. Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura (Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural), 1995.

OLIVEIRA, Reinaldo José de. A Presença do negro na cidade: memória e território da Casa Verde em São Paulo. 2002. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2002.

OLIVEIRA, Reinaldo José de. Segregação urbana e racial na cidade de São Paulo: as periferias de Brasilândia, Cidade Tiradentes e Jardim Ângela. 2008. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008.

OLIVEIRA, Reinaldo José de (Org.). A cidade e o negro no Brasil: cidadania e território. São Paulo: Alameda, 2. ed., 2013.

OS BAIRROS da Berlinda: Casa Verde, mundo perdido e abandonado dentro mesmo de São Paulo. O Correio Paulistano, São Paulo, ano 94, n.27.991, p.24, jun. 1947.

O QUE DIZEM...O que falam. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ano 33, n.12.267, p.53, 12 nov. 1962.

PEREIRA, Rodrigo. Memórias do Terreiro da Goméia: entre a sacralidade e a dessacralização. V!RUS, São Carlos, n.16, 2018. Disponível em: http://www.nomads.usp.br/virus/virus16/?sec=4&item=1&lang=pt. Acesso em: jun. 2022.

PRANDI, Reginaldo. Linhagem e legitimidade no candomblé paulista. Revista Brasileira de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v.5, n.14, p.18-31, out. 1990.

PRANDI, Reginaldo. Os candomblés de São Paulo: a velha magia na metrópole nova. São Paulo: Editora Hucitec; Edusp, 1991.

QUINTÃO, Antônia Aparecida. Irmandades negras: outro espaço de luta e resistência (1870-1890). 1991. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1991.

ROLNIK, Raquel. Territórios negros nas cidades brasileiras: etnicidade e cidade em São Paulo e Rio de Janeiro. Revista de Estudos Afro-Asiáticos 17 – CEAA, Universidade Cândido Mendes, set. 1989. Disponível em: https://raquelrolnik.files.wordpress.com/2013/04/territc3b3rios-negros.pdf. Acesso em: fev. 2022.

SAMPAIO, Maria Ruth Amaral de (Coord.). São Paulo 1934-1938: os anos da administração Fabio Prado. São Paulo: FAUUSP, 1999.

SANTOS, Bruno Garcia dos. Memórias afrodiaspóricas em território negro paulista: práticas ancestrais no Parque Peruche. 2018. Dissertação (Mestrado em História Social) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018.

SEU CARLÃO DO PERUCHE. [Depoimento]. Entrevistadora: Maria Gabriela Feitosa dos Santos. São Paulo: Brasilândia, 8 nov. 2018. (41min. 24s.). Depoimento concedido para a pesquisa de Iniciação Científica desenvolvido pela autora como parte das pesquisas do Laboratório de Estudos sobre Relações Étnico-Raciais e o Espaço Urbano (LabRaça FAU-USP) coordenado pela Profa. Dra. Ana Cláudia Castilho Barone. 8 nov. 2018.

SILVA, Gleuson Pinheiro. As escolas de samba negras da periferia e a hierarquia do carnaval paulistano: difíceis acessos. Pós. Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAU-USP, v.28, e.173321, 2021.

SOMEKH, Nadia. A cidade vertical e o urbanismo modernizador. São Paulo: Studio Nobel; Edusp, 1997.

WISSENBACH, Maria Cristina. Sonhos africanos, vivências ladinas: escravos forros em São Paulo (1850-1880). São Paulo: Hucitec, 1998.

ZUMBANO, Sr. Higino. Tem a palavra o povo. Jornal de Notícias, São Paulo, ano 1, n.64, p.8, ago. 1946.

ZUMBANO, Sr. Higino. Os bairros na berlinda: Casa Verde. O Correio Paulistano, São Paulo, ano 94, n.27.984, p.5, jun. 1947.

Downloads

Publicado

11-08-2023