Cochim como laboratório do mundo: uma paisagem no Estado da Índia no século XVI
Palabras clave:
história da urbanização, Estado da Índia, século XVIResumen
Os encontros e trocas culturais em escala global que resultam em paisagens culturais híbridas têm suscitado revisões historiográficas. Na contramão de uma história eurocêntrica, e ancorado nos recentes conceitos de “paisagem cultural”, “hibridismo cultural” e “história global”, o presente artigo visa ler e desconstruir processos de fertilização mútua na “mobilização ibérica” (GRUZINSKI, 2014), tomando como estudo de caso a cidade de Cochim, primeira capital do Estado da Índia do Império Português. Partindo de uma perspectiva interdisciplinar, o artigo debate a paisagem de Cochim em suas interfaces com as culturas preexistentes, sobretudo ao longo do século XVI, tendo como pano de fundo os testemunhos produzidos à época – relatos de cronistas, naturalistas viajantes, cartógrafos – até as mídias atuais –, geotecnologias, literatura especializada, etc. Na análise do material levantado, a constituição de Cochim enquanto paisagem cultural mostrou-se sensivelmente ligada à ampla circulação de sujeitos, artefatos e ideias durante a mobilização ibérica, configurando-se como um caso exemplar dos contatos estabelecidos no processo de mundialização: um legítimo “laboratório do mundo”.
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