Imagens do sertão da América Portuguesa
Palavras-chave:
América Portuguesa, sertão, cartografiaResumo
Enquanto o litoral da América portuguesa foi rapidamente mapeado, nomeado e dominado pela Coroa portuguesa no século XVI, as terras interiores, convencionalmente chamadas pelos europeus de “sertão”, seguiam pouco exploradas e desconhecidas ao menos até o final do século XVII, ocasião da descoberta de ouro em Minas Gerais. De limites imprecisos, distante do litoral Atlântico e avesso aos raios da administração colonial, o sertão propiciou tanto a projeção de fantasias e de mitos europeus provenientes da Antiguidade e da Idade Média como leituras inusitadas de práticas ameríndias. Além de terras que ocultavam riquezas e tesouros, o sertão desenhado pelos europeus abrigou formas fantásticas de humanidade, que, nascidas no mundo grego, foram difundidas na Europa e migraram para o continente americano. O Novo Mundo, portanto, foi povoado por gigantes, canibais, blêmios, antípodas, ciclopes, amazonas, homens e mulheres calvos e barbudos, entre outros seres exóticos. Tais representações, recorrentes na cartografia do século XVI, serviam de justificativa à conquista e à expropriação das terras indígenas.
Referências
ADONIAS, Isa (org.). Mapa: imagens da formação territorial brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Emílio Odebrecht, 1993.
ALMEIDA, Francisco José de Lacerda e. Diários de viagem. Nota-prefácio de Sérgio Buarque de Holanda. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1944.
ARQUIVO DO ESTADO DE SÂO PAULO. Publicação oficial de documentos interessantes para a história e costumes de São Paulo, vol. XXIII. Arquivo do Estado, 1895.
______. Inventários e testamentos. Papéis avulsos que pertenceram ao Primeiro Cartório de Órfãos da capital. Tomo I. Publicação Oficial do Arquivo do Estado, 1920.
BARTOLOMÉ, Miguel Alberto. As etnogêneses: velhos atores e novos papéis no cenário cultural e político. Mana, Rio de Janeiro, v.12, n.1, p.39-68, abr. 2006.
BELUZZO, Ana Maria. Imaginário do novo mundo. São Paulo: Fundação Odebrecht, 1994.
BELYEA, Bárbara. Inland Journeys, Native Maps. In: LEWIS, Malcolm (Ed.). Cartographic Encounters. Perspectives on Native American Mapmaking and Map Use. Chicago and London: The University of Chicago Press, 1998. p.135-157.
BERGER, John. Ways of Seeing. London: Penguin Books, 1972.
BERNAND, Carmen; GRUZINSKI, Serge. O Novo Mundo: da descoberta à conquista, uma experiência europeia (1492-1550). Trad. Cristina Murachco. São Paulo: Edusp, 1997.
BLAJ, Ilana. A trama das tensões: o processo de mercantilização de São Paulo colonial. 1995. Tese (Doutorado em História) — Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1995.
CARDIM, Fernão. Tratado de Terra e Gente do Brasil [1584]. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1980.
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Imagens de índios do Brasil: o século XVI. Revista de Estudos Avançados, São Paulo, v.4, n.10, p.91-110, set./dez. 1990. Disponível em: < https://doi.org/10.1590/S0103-40141990000300005 >. Acesso em: 22 mar. 2019.
CLARK, Kenneth. A paisagem na arte. Trad. Rijo de Almeida. Lisboa: Editora Ulisseia1, 1961.
CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos Velhos Mapas. Tomo I. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, s.d.
______. Raposo Tavares e a formação territorial do Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e da Cultura, 1958.
DANIEL, João Padre (1722-1776). Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas, v.1. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004.
D’ÉVREUX, Yves. Viagem ao norte do Brasil feita nos anos de 1613 e 1614. Tradução, introdução e notas de Fernando Diniz. Rio de Janeiro: Depositário Freitas Bastos e Livraria Leite Ribeiro, 1929.
FRANÇA, Susani. Viagens de Jean de Mandeville. São Paulo: EDUSC, 2007.
GANDAVO, Pero de Magalhães. História da Província de Santa Cruz. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.
GIUCCI, Guillermo. Viajantes do maravilhoso: o Novo Mundo. Trad. Josely Vianna Baptista. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
GRUZINSKI, Serge. A colonização do imaginário: sociedades indígenas e ocidentalização no México espanhol, séculos XVI-XVIII. Trad. Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
HEMMING, John. Índias and the Frontier in Colonial Brazil. In: BETHELL, Leslie. The Cambridge History of Latin America, v.2. Cambridge: Cambridge University Press, 1984. p.501-546.
HERÓDOTO. História. Madrid: Cátedra, 2003.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Movimentos da população de São Paulo no século XVIII. São Paulo. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, v.1, p.55-111, 1966.
______. Caminhos e Fronteiras. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
______. Visão do Paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. 6. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994.
KOK, Glória. O sertão itinerante: expedições da Capitania de São Paulo no século XVIII. São Paulo: Fapesp/Hucitec, 2004.
______. Vestígios indígenas na cartografia da América portuguesa. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v.17, n.2, jul./dez. 2009.
LANGER, Johnni. O mito do Eldorado: origem e significado no imaginário sul-americano (século XVI). Revista de História, São Paulo, n.136, p.25-40, 1997.
LE GOFF, Jacques. O maravilhoso e o quotidiano no Ocidente medieval. Trad. José Antônio Pinto Ribeiro. Lisboa: Edições 70, 1983.
LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. 2. ed. Trad. Tânia Pellegrini. Campinas: Editora Papirus, 1997.
MACHADO, Alcântara. Vida e morte do bandeirante. Introdução Sérgio Milliet. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1980.
MANUSCRITO da Coleção Yan de Almeida Prado Mapas, estatísticas e alguns desenhos reunidos em um volume: século XVIII. Instituto de Estudos Brasileiros, Universidade de São Paulo, s.d.
MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
______. Tupis, tapuias e historiadores. 2001. Tese (Livre-Docência) — Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de Campinas, Campinas, 2001.
NOBLES, Gregory H. American Frontiers: cultural encounters and continental conquest. New York: Hill and Wang, 1977.
O’GORMAN, Edmundo. A invenção da América: reflexão a respeito da estrutura histórica do Novo Mundo e do sentido do seu devir. Trad. Ana Maria Martinez Corrêa e Manoel Lelo Belloto. São Paulo: Edunesp, 1992.
PIZARRO, Ana Irene. Amazonía, el río tiene voces: imaginario y modernización. Chile: Fondo de Cultura Económica, 2009.
PRATT, Mary Louise. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação. Trad. Jézio Hernani Bonfim Gutierre. Bauru: Edusc, 1999.
PTOLOMEU, Cláudio. Geografia. Library of Congress. Disponível em: < https://bityli.com/qpu7N >. Acesso em: 05 mai. 2019.
SALVADOR, Frei Vicente. História do Brasil: 1500-1627. 7. ed. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1982.
SANTOS, Amália Cristóvão dos. Sertão e desierto: aproximações entre o Império do Brasil e a República da Argentina no início do século XIX. América — Revista de Pós-Graduação da Escola da Cidade, São Paulo, n.1, p.92-103, dez. 2018.
SCHEDEL, Hartmann. Liber Chronicarum, 1493. Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo.
SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587, edição comentada de Francisco Adolfo de Varnhagen. 5. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional; Brasília, DF: INL, 1987.
TAUNAY, Affonso de E. Relatos sertanistas. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1981.
VESPÚCIO, Américo. Novo Mundo. Trad. Luiz Renato Martins. Porto Alegre: LP&M, 1984.
WHITEHEAD, L. Neil. The Historical Anthropology of Text. Current Anthropology, v.36, n.1, p.53-74, fev. 1995.
______. Black Read as Red. Ethnic Transgression and Hybridity in Northeastern South America and the Caribbean. In: RESTALL, Matthew (Ed.). Beyond Black and Red. Albuquerque: University of New Mexico Press, 2005, p.223-243.
