Lugares de memória e consciência: as territorialidades dos bolivianos em São Paulo
Palavras-chave:
memória, violência, imigraçãoResumo
Memória, história e cidade possuem ligações íntimas e complexas, passíveis de diversas abordagens e compreensões. Uma compreensão possível dessas ligações parte da definição clássica de cidade na tradição culturalista: a cidade entendida como fruto da mão de obra coletiva, construída pelo movimento constante de sobreposições e desconstruções, em parte desaparece e em parte permanece com o passar do tempo (GORELIK, 2009). Nessa perspectiva, entende-se que a violência transforma a cidade e suas formas de representação. Não à toa, lugares relacionados a massacres, desastres, traumas e violências vêm sendo exigidos pela população civil como provas legais, espaços simbólicos, didáticos e, principalmente, de afirmação dos direitos humanos. Passível de ser compreendida à luz dessas reflexões é a territorialidade dos bolivianos em São Paulo. Apesar de já serem mais de 350.000 na grande São Paulo, sua presença na vida pública da cidade, nos transportes, praças, vias, é ainda pouco notável. Tendo em vista que tal condição não deve ser confundida com total ausência (CYMBALISTA; ROLNIK, 2010), cabe aqui debater as possibilidades de inclusão mais igualitária desses imigrantes no espaço público. Busca-se, no limite, olhar para o caso emblemático como meio de refletir acerca das possibilidades de afirmação dos direitos humanos a partir e através do espaço público.
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