Estética do arrebamento
Palavras-chave:
Política, Estética, Jornadas de JunhoResumo
Diante de um antagonismo social renovado, desencadeado a partir das “Jornadas de Arrebatamento” – como conceitua o filósofo Paulo Arantes – iniciadas em junho de 2013, discutiremos neste artigo os traços que compõem uma estética própria do levante de extrema-direita ocorrido nos últimos anos no Brasil, marcado pelo protagonismo do neopentecostalismo e por uma expressividade política teatral, que busca catalisar ressentimentos morais e econômicos sentidos diante de uma pauperização geral das condições de vida. Essa estética cria uma retórica visual que, por mais que não seja coesa, consegue mobilizar e ganhar adeptos ao evocar um repertório que tem adesão na realidade daqueles que vivem um cotidiano urbano marcado pela “viração”. Nesse contexto, em que a gramática dos direitos não é mais comum e a instituição que mais se faz presente é a igreja, a noção de um Estado usurpador e de uma guerra cotidiana de todos contra todos – a ideologia liberal – e a crítica às “degenerações morais” repercutem. Discutiremos três filmes do “novíssimo” cinema brasileiro que mergulham no cotidiano dos arrebatados e que, apesar de serem hipérboles ficcionais, servem para discutir elementos da transformação social narrada por vasto trabalho etnográfico.
Referências
AGAMBEN, G. O que é um dispositivo. In: AGAMBEN, G. O que é o contemporâneo e outros ensaios. Chapecó, SC: Argos, 2009.
AMORIM, A. N.; FELTRAN, G. Ordem e progresso: expansão do mundo do crime e projetos de mobilidade. Novos Estudos Cebrap, v.42, n.1, p.21-38, 2023. https://doi.org/10.25091/S01013300202300010002.
ARANTES, P. O novo tempo do mundo. In: ARANTES, P. O novo tempo do mundo: e outros estudos sobre a era da emergência. São Paulo: Boitempo, 2014. [ebook] 453 p.
BBC NEWS BRASIL. Fogueiras de livros e lavagem cerebral: quem foi Goebbels, ministro de Hitler parafraseado por secretário de Bolsonaro. BBC News Brasil, 17 jan. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51071094. Acesso em: 26 fev. 2024.
BECKETT, S. Esperando Godot. 1. ed. São Paulo: Cia. das Letras, 2017.
BEIGUELMAN, G. A pandemia das imagens: retóricas visuais e biopolíticas do mundo covídico. Revista Latinoamerica de Psicopatogia Fundamental, São Paulo, v.23, n.3, p.549-563, set. 2020.
BERNARDO, J. Arte e espelho 5. Passa Palavra, 2 abr. 2021. Disponível em: https://passapalavra.info/2021/04/136433/. Acesso em: 7 dez 2023.
DUNKER, C. et al. Para uma arqueologia da psicologia neoliberal brasileira. In: SAFATLE, V.; SILVA JR., N.; DUNKER, C. Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico. Belo Horizonte: Autêntica, 2021.
FOUCAULT, M. Segurança, território, população. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
GAGO, V.; GIORGI, G. Notas sobre las formas expresivas de las nuevas derechas: las subjetividades de las mayorías en disputa. Anuario de la Escuela de Historia Virtual, ano 13, n.21, p.61-74, 2022.
GUERREIRO, I. O futuro de junho hoje. Passa Palavra, 31 jul. 2023. Disponível em: https://passapalavra.info/2023/07/149292/. Acesso em: 7 dez. 2023.
HIRATA, D.; ROCHA, L. de M.; SANTOS JR., O. A. dos. Ilegalismos, controle territorial armado e a cidade: reflexões na perspectiva de uma agenda de pesquisa. Cadernos Metrópole, [S. l.], v.26, n.61, p. e6168000, 2024. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/metropole/article/view/68000. Acesso em: 23 mar. 2025.
IKEDA, M. O “novíssimo cinema brasileiro”. Sinais de uma renovação. Cinémas d’Amérique latine, 18 abr. 2014. Disponível em: http://journals.openedition.org/cinelatino/597. Acesso em: 20 dez. 2023. DOI: https://doi.org/10.4000/cinelatino.597.
KOWARICK, L. A espoliação urbana. São Paulo: Paz e Terra, 1979.
KURZ, R. O colapso da modernização: da derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
MANSO, B. P. A fé e o fuzil: crime e religião no Brasil do século XXI. São Paulo: Todavia, 2023. [ebook] 330p.
MORAES, A. et al. Junho: potência nas ruas e nas redes. São Paulo: Fundação Friedrich Ebert, 2014.
NUNES, R. Do transe à vertigem: ensaios sobre o bolsonarismo e um mundo em transição. São Paulo: Ubu, 2022.
PACHECO, R. Um golpe (bem) dado em nome de Deus. Intercept Brasil, 2 set. 2016. Disponível em: https://www.intercept.com.br/2016/09/02/um-golpe-bem-dado-em-nome-de-deus/. Acesso em: 20 nov. 2023.
PRIETO, G; VERDI, E. F. Irmãos na Terra Prometida: crime, igreja e regularização fundiária em São Paulo. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, Brasil, v.1, n.85, p.55–73, 2023. DOI: 10.11606/issn.2316-901X.v1i85p55-73. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/215451. Acesso em: 15 abr. 2025.
RANCIÈRE, J. O espectador emancipado. In: RANCIÈRE, J. O espectador emancipado. São Paulo: WMF Martins Fontes. 2014.
TELLES, V. da S. Transitando na linha de sombra, tecendo as tramas da cidade (anotações inconclusas de uma pesquisa). In: OLIVEIRA, Francisco; RIZEK, Cibele. (orgs.). A era da indeterminação. São Paulo, Boitempo, 2007.
TELLES, V. da S.; HIRATA, D. V. Ilegalismos e jogos de poder em São Paulo. Tempo social, v.22, p. 39-59, 2010.
WISNIK, G. ROLNIK, R. Instalar grades em palácios modernistas de Brasília seria um erro. Folha de S.Paulo, 23 jan. 2023. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2023/01/instalar-grades-em-palacios-modernistas-de-brasilia-seria-um-erro.shtml. Acesso em: 7 dez. 2023.